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m dia desses, remexendo os meus
guardados, deparei-me com um livro de poesias; olhando o autor, veio à mente a
figura de um moço, como era na época; hoje, não sei por onde trilha o seu
caminho.
Seu currículo era impressionante.
No mundo literário, era
comentarista da Radio/TV-Bandeirantes, onde tinha um programa semanal, no qual analisava
os lançamentos dos livros de escritores iniciantes e, em especial, os
renomados.
Na área política, desenvolvia
assessoria no Palácio dos Bandeirantes, ao governo da época; aí se destacou de
tal forma, que veio a ser contratado para coordenar a campanha política do
então Vice- Presidente de um Grupo Empresarial, no qual eu trabalhava na área
de Recursos Humanos. No momento em que nos conhecemos pessoalmente, já tinha
recebido, como meta, ajudá-lo a desenvolver a coordenação da campanha em todo o
Estado de São Paulo.
Abrindo a contracapa, emocionei-me ao ver sua letra
estampada na pagina branca, já meio amarelada, dirigindo uma dedicatória a mim
e a minha esposa:
“À Dijanira para que junto com a
sensibilidade do meu amigo Vendramini, possa caminhar pela estrada da minha
poesia.”
Afonso
Celso Calicchio
08 de
Outubro de 1982.
Sempre gostei de poesias, tanto
que, quando jovem, fazia e encantava as pessoas; e foi assim que conheci minha
esposa e nos enamoramos e seguimos nossa vida até os dias de hoje.
Para homenageá-la, ameacei fazer
uma pequena poesia, mas vi que estou meio destreinado; no momento, a minha
verve está dirigida para a elaboração de crônicas e livros. Mas não faltará
oportunidade, agora que estou nesse caminho...
Assim sendo, recorro ao livro do
amigo Calicchio que tenho nas mãos.
Folheando as páginas, encontrei
uma linda trajetória de incríveis palavras que transcrevo abaixo:
O ECO DO TEU GRITO
Alguém gritou no
silêncio o meu nome, e o desespero fecundou o ventre da terra, violento,
assustando os animais que dormiam a trégua dos homens, secando o leite no seio
das mulheres, despertando o pranto na boca das crianças.
Alguém gritou no
silêncio o meu nome, e a desesperança varreu o futuro dos encontros, agredindo
o vento e profanando a verdade dos mortos, nos desertos, nos campos, nas
cidades.
Ah! O desperdício
do brado e do remorso, a escuridão estilhaçando o negro em mil caminhos num
transbordamento de crepúsculos adormecidos em leitos sem amor e sem perdão.
Alguém gritou no
silêncio o meu nome, e o arrependimento vagou pelas estradas e pelo tempo
acreditando em todas as dúvidas, agigantando qualquer esperança de luz, de
ruído, de sombra, de acaso.
Muito mais perdida
que a aflição da verdade, perde-se a crença na indagação do talvez, do grito
que verga o caule frágil dos pinheiros, levantando a poeira sem passadas,
explode na vida em céu aberto, arrancando das nuvens o êxtase da luz.
A chuva desaba
implacável, sobre a paisagem e, repentinamente, o gotejar das folhas nos
caminhos, o silêncio dos pássaros em seus ninhos, o perfume do mato e da terra
molhada, o rescender na profusão dos atalhos e na pequenez dos caminhos, traz a
plenitude da paz, da calma e da harmonia.
Quando o silêncio
retorna em madrugadas, o ruído exausto de teus passos levemente atemoriza.
Está toda molhada de angústias, exausta.
Teu grito adormeceu nos braços do infinito.
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Meu caro Calicchio:
Onde você estiver, receba o meu abraço de paz, harmonia e muita saúde.
Antonio Vendramini Neto
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